Dia Mundial do Câncer: avanços significativos na luta contra a doença envolvem participação do Brasil nas pesquisas científicas
por Dra. Thais Melo, diretora médica da Boehringer Ingelheim Brasil
O Dia Mundial do Câncer, celebrado em 4 de fevereiro, é uma oportunidade de conscientização e reflexão sobre a batalha global contra essa enfermidade devastadora. Neste ano, trazemos notícias promissoras para os pacientes, destacando dois fármacos inovadores, Zongertinibe e Brigimadlin, em fase de estudos clínicos.
Esses progressos oferecem uma nova esperança na luta contra o câncer. Mas, inicialmente, é importante compreender o impacto da doença globalmente e no Brasil. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), existem mais de 100 tipos1 de cânceres no mundo. Entretanto, alguns órgãos são mais afetados do que outros, e cada um deles, por sua vez, pode ser acometido por tipos diferentes de tumor, mais ou menos agressivos2.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2020, 2,21 milhões de pessoas foram diagnosticadas com câncer de pulmão, tornando-o o segundo tipo mais comum globalmente3. O câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) representa a maioria desses casos, com 85% deles. No Brasil, conforme dados do INCA, a estimativa para o número de novos casos de câncer de traqueia, brônquios e pulmão é de 32.560 para cada ano no triênio de 2023 a 20254.
Por sua vez, o lipossarcoma desdiferenciado, que é um outro tipo de câncer que acomete o que chamamos de "partes moles" (regiões de músculos e gordura, por exemplo), é raro. No entanto, os pacientes que convivem com a doença não tiveram novas opções de tratamento de primeira linha em quase cinco décadas5.
Brigimadlin: uma esperança contra o Lipossarcoma Desdiferenciado (DDLPS)
No contexto do Lipossarcoma Desdiferenciado, mais uma inovação que promete impactar positivamente a vida dos pacientes: o Brigimadlin (nome ainda em inglês). Com previsão de submissão para aprovação da Anvisa nos próximos anos, a molécula está sendo testada em ensaios clínicos de Fase III para DDLPS e de Fase II para cânceres biliares e pancreáticos avançados ou metastáticos com alterações especificas em proteínas chamadas MDM2 e p53.
Este medicamento atua como um antagonista da interação entre as proteínas MDM2 e p53, que leva à restauração da função normal da proteína p53, que é inibir o crescimento do câncer. A ação da p53 é parar o crescimento das células cancerosas e levar mesmo à morte dessas células. Esse processo é importante para combater o câncer, especialmente em casos em que a proteína p53 está funcionando de maneira anormal.
Resultados preliminares promissores foram observados em um estudo de Fase I em pacientes, o que levou à concessão da Designação Fast Track pela Food and Drug Administration (FDA) dos EUA em janeiro e, em julho, à Designação de Medicamento Órfão pela Comissão Europeia para o sarcoma de tecidos moles (STS), incluindo o DDLPS.
O Brasil será um dos países participantes dos ensaios clínicos, e o início do recrutamento está previsto ainda para este ano. A partir de março os centros de pesquisa iniciarão o estudo, incluindo oito centros nacionais de diversos estados.
Essa abordagem inovadora, tanto no desenvolvimento do medicamento em si quanto na pesquisa no Brasil, visa proporcionar tratamentos mais significativos e alcançar aqueles que mais necessitam.
Zongertinibe: uma alternativa para mutação HER2 em Câncer de Pulmão
Para os aproximadamente 40.000 pacientes diagnosticados anualmente com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) com mutação HER26, a realidade é desafiadora. As mutações no gene HER2 estão associadas a diversos tipos de câncer, e o Zongertinibe emerge como uma alternativa promissora. Estudos indicam que 2-6% dos casos de CPCNP apresentam mutações HER7-8.
O Zongertinibe, um inibidor de tirosina quinase HER2, está em estudo clínico de Fase I, visando avaliar sua eficácia e segurança para pacientes com essa mutação específica, sendo um marco na busca por tratamentos mais eficazes.
Contribuindo para o Futuro: envolvimento dos pacientes brasileiros nas pesquisas científicas
Um aspecto crucial é o comprometimento com os pacientes ao longo do processo de desenvolvimento. Ter uma rede de pesquisa colaborativa, aliada à participação ativa dos pacientes, assegura que os tratamentos sejam não apenas eficazes, mas também acessíveis àqueles que mais precisam.
No Brasil, a meta é contribuir com os avanços médicos-científicos engajando os pacientes para o estudo do Zongertinibe, com centros de recrutamento em diversas cidades, incluindo Bento Gonçalves, São Paulo, Porto Alegre, Santo André, São José do Rio Preto, Rio de Janeiro e Londrina.
O esforço conjunto promove inovações que têm o potencial de transformar radicalmente a jornada de pacientes e suas famílias. Essas inovações não são apenas promissoras, elas moldam um futuro em que tratamentos mais eficazes e personalizados podem fazer a diferença para todos aqueles que enfrentam essa complexa jornada oncológica.
2- Instituto Nacional do Câncer. Tipos de cancer. Disponível em https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/tipos
3- World Health Organisation- Cancer (3 February 2022). https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/cancer (2022).
4- Instituto Nacional do Câncer. Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil. Disponível em https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/document/estimativa-2023.pdf
5- Schöffski, P. Opções de tratamento sistêmico estabelecidas e experimentais para lipossarcoma avançado. Oncol. Res. Tratar. (2022) doi:10.1159/000524939
6-. Boehringer Ingelheim. A história de combate ao câncer HER2. Disponível em https://www.boehringer-ingelheim.com/science-innovation/human-health-innovation/science-stories/targeting-her2-cancer-story
7- Arcila, M. E. et al. Prevalence, clinicopathologic associations, and molecular spectrum of ERBB2 (HER2) tyrosine kinase mutations in lung adenocarcinomas. Clin. cancer Res. an Off. J. Am. Assoc. Cancer Res. 18, 4910–4918 (2012).
8-Mazières, J. et al. Lung cancer that harbors an HER2 mutation: epidemiologic characteristics and therapeutic perspectives. J. Clin. Oncol. Off. J. Am. Soc. Clin. Oncol. 31, 1997–2003 (2013).