A “humanização” dos pets desperta um mercado com grandes possibilidades
Por Ahmed Alvarez, diretor da área de Pets da Boehringer Ingelheim Saúde Animal
O mundo moderno, conectado, rápido, de muito trabalho e menos tempo livre vem trazendo consequências no modo de vida das pessoas e na composição das famílias. Na década de 1960, as famílias brasileiras tinham, em média, seis filhos. Atualmente, a média cai para 1,7, de acordo com um estudo do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), divulgado em 2018.
Em contrapartida à redução do número das pessoas nas famílias, o ser humano encontra nos animais de companhia uma solução para preencher a casa. No Brasil não é diferente. Segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), já temos a quarta maior população de pets, com mais de 52 milhões de cães e 22 milhões de gatos, além de outros animais que ocupam espaços importantes nos lares das pessoas. Não é por acaso que, em muitos casos, os animais de estimação se tornaram personagens importantes das famílias. “É meu filho!”, ouvimos dizer com maior frequência dos tutores, que é o termo que gradativamente vem substituindo os “donos”, graças à crescente “humanização” dos pets.
Todo esse apego aos animais agita um mercado bilionário que, em 2018, movimentou R$ 35 bilhões em vendas de produtos e serviços, segundo o Instituto Pet Brasil. Para atender as exigências das pessoas, a indústria do setor vem se desenvolvendo em ritmo acelerado, oferecendo inúmeras novidades, desde vacinas e medicamentos com tecnologia de ponta, passando por alimentos balanceados até acessórios diferenciados que, em muitos casos, remetem ao estilo de vida dos humanos. Hoje, por exemplo, é possível encontrar facilmente tratamentos para os pets que até então eram só oferecidos às pessoas, como acupuntura, fisioterapia, medicina chinesa, etc. São tantas as opções que os tutores podem optar por fazer plano de saúde para o pet, home care, taxi dog e hair style (os especialistas em penteados para cães e gatos).
Na alimentação, uma forma que os tutores encontraram de agradar os “filhos” de quatro patas é oferecer iguarias específicas para pets. Nos grandes centros brasileiros, já é possível encontrar estabelecimentos como padarias e confeitarias especializadas em bolos, sorvetes, chocolates, cupcakes exclusivos para cães e gatos, com ingredientes que não são nocivos à saúde dos animais.
Graças a essa demanda, os grandes centros comerciais, shoppings centers e até restaurantes também estão aderindo ao novo estilo de vida das famílias e adaptando suas estruturas e equipes para receber os animais de companhia. O termo pet friendly está tão em alta no mercado nacional que já é um dos diferenciais de algumas empresas, que permitem a visita dos pets ao local de trabalho. Mas ainda há um longo caminho a percorrer. De acordo com um estudo elaborado pela Dog Hero, 94% dos entrevistados gostariam de trabalhar em um ambiente em que os cães são bem-vindos. A realidade, contudo, apontou que o mercado ainda está longe de atingir essa expectativa: 83,73% afirmaram que animais não são permitidos no local de trabalho.
Alguns acham exagero toda essa atenção e cuidados especiais com os bichinhos, mas é um movimento natural e um caminho sem volta. O papel dos animais de companhia na vida das pessoas tem crescido e eles têm sido fundamentais para melhorar os níveis de felicidade e até na saúde mental, ajudando a reduzir o estresse gerado pela vida moderna. E a recíproca dos humanos é notada em diversas formas, manifestada com amor, carinho e, claro, os mimos diários que oferecem. Nesse movimento, o mercado tem de estar pronto para garantir a convivência saudável entre humanos e animais satisfazer os mais diversos anseios em termos de saúde e conforto.